
Eram rendas, rendas que hoje permanecem connosco, quem sabe algumas guardadas na arca ou no fundo de uma gaveta porque os imperativos da moda deixaram de valorizar tais virtudes.
Tenho o privilégio de possuir parte deste espólio e de me perder inúmeras vezes nele, num reencontro com o passado.
Observo cada pormenor inscrito nos pontos altos e baixos que desenham flores e formas e tento adivinhar os pensamentos, as emoções e as vivências das suas obreiras e que subtilmente se entrelaçaram nas rendas, materializando assim as suas memórias.
Gosto de imaginar que ainda estão connosco desta forma.
Sentir assim, a arte e a coragem que enlaçou as suas vidas, até ao fim.
Reconforto-me nestas lembranças, nas suas referências e nos seus exemplos e sigo em frente. Sabendo de onde venho, saberei sempre para onde devo ir.
Procuro todos os dias ser mais o que faço do que o que digo, ou então ser o que digo naquilo que faço.
Quando olho para as rendas que com mestria fizeram, sei o que permanecerá de mim um dia, se houver alguém que se reconforte também na minha memória.
Se hoje trago comigo o estandarte das minhas origens é para que amanhã, o cunho da minha lembrança tenha inscrito o orgulho de ter uma família e de ser filha e neta de quem sou!
3 comentários:
O teu texto é mto bonito e também me tocou muito.
Quanto às rendas a mim calhou-me um pequeno quadrado de 40x20cm. Guardo-o com muito carinho numa gaveta envolvido em papel vegetal. É um padaço da minha avó, e que para mim representa mais que uma fotografia. Foi feito pelas suas próprias mãos, é um pedaço dela...
adorei o texto
Belíssimo Maria João!
A importância das raízes e da passagem desse testemunho, a importância da família e dos valores transmitidos.
Também eu guardo pontos desses e o amor com que foram feitos, amor de avó, amor de mãe, amor de tias...toda uma vida que nos é dada para que a saibamos valorizar.
Beijinhos
Branca
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