sábado, 10 de janeiro de 2009

Mulheres de arte e coragem

Não pintaram quadros, nem escreveram livros, mas construíram verdadeiras obras de arte, tecidas com o fio da vida, de ponto em lágrima e laçada em riso.
Eram rendas, rendas que hoje permanecem connosco, quem sabe algumas guardadas na arca ou no fundo de uma gaveta porque os imperativos da moda deixaram de valorizar tais virtudes.
Tenho o privilégio de possuir parte deste espólio e de me perder inúmeras vezes nele, num reencontro com o passado.
Observo cada pormenor inscrito nos pontos altos e baixos que desenham flores e formas e tento adivinhar os pensamentos, as emoções e as vivências das suas obreiras e que subtilmente se entrelaçaram nas rendas, materializando assim as suas memórias.
Gosto de imaginar que ainda estão connosco desta forma.
Sentir assim, a arte e a coragem que enlaçou as suas vidas, até ao fim.
Reconforto-me nestas lembranças, nas suas referências e nos seus exemplos e sigo em frente. Sabendo de onde venho, saberei sempre para onde devo ir.
Procuro todos os dias ser mais o que faço do que o que digo, ou então ser o que digo naquilo que faço.
Quando olho para as rendas que com mestria fizeram, sei o que permanecerá de mim um dia, se houver alguém que se reconforte também na minha memória.
Se hoje trago comigo o estandarte das minhas origens é para que amanhã, o cunho da minha lembrança tenha inscrito o orgulho de ter uma família e de ser filha e neta de quem sou!